quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

EUA

Tenho seguido com atenção e interesse o processo eleitoral que vem decorrendo nos EUA. De facto, para quem gosta de política é difícil ficar indiferente ao complexo, quiçá obsoleto, injusto, desigual e, ao mesmo tempo, fascinante mecanismo que conduz à eleição do Presidente da República americana, lá para o próximo mês de Novembro.
Na sequência de mais uma ronda vitoriosa, Barack Obama afirma-se como um verdadeiro fenómeno, desta feita a ultrapassar o número de delegados e superdelegados da sua oponente mais directa, Hillary Clinton. Oriundo de uma família de classe média baixa, curiosamente Obama cresceu a pouco mais de 30 kms de Hillary. As razões do seu sucesso? A meu ver, BO é um homem de convicções fortes, sem ser fundamentalista. Quando muitos esperariam vê-lo a utilizar a sua etnia como um trunfo, talvez factor de vitimização para conquistar uns quantos "votos de piedade", eis que ele relega isso para segundo ou terceiro plano. Sem negar as suas origens, evita discursos inflamados, afasta figuras potencialmente polémicas da comunidade negra dos seus comícios. E isso revela elegância, classe e maturidade política, que alguns ainda lhe apontam como ponto fraco. Não tem medo de pôr o dedo nas feridas que estão abertas na sociedade americana. Fala sem complexos da questão iraquiana, da economia, da saúde, educação, todas em vias de colapso. Sabe jogar o jogo da política showbiz, como qualquer dos big boys, rodeando-se de figuras mediáticas (ao contrário do Nuno Rogeiro, eu acho que a Oprah rende mesmo alguns votos), que aparecem ao seu lado a atestar a maior das confianças. E o facto é que tem vindo a conquistar progressivamente a opinião pública, vencendo primárias em estados tão díspares de culturas e mentalidades como o Iowa, Illinois ou D.C. (na verdade, este último é um distrito federal).
Com a corrida à eleição final a estreitar-se, Hillary parece vir aos poucos a perder o fulgor inicial, realizando algumas operações de makeover no seio da sua prole (acabou de trocar de directora de campanha). Assume publicamente a dificuldade em angariar apoios financeiros e o recurso ao próprio bolso (ligeiramente mais largo que o meu, suspeito) para se manter taco a taco com o seu oponente negro. Ainda é, contudo, uma candidata a ter em conta. Terá a sua oportunidade no Texas e Ohio para o provar.
Do lado republicano (será que entram realmente nas contas?), as coisas parecem estar mais definidas, com o senador McCain a assumir-se cada vez mais como o único candidato do GOP capaz de bater o pé aos seus adversários democratas. Este herói de guerra (se tal existe) tem conquistado uma inegável popularidade, sobretudo por se saber adaptar melhor às circunstâncias do que os seus pares: ora mais liberal, atacando Bush ora conservador, fazendo as delícias da comunidade neocon. Um dado que poderá jogar contra si é o facto de poder vir a ser o mais velho presidente de sempre dos EUA.
Qualquer que seja o desfecho, estas presidenciais já são certamente as mais mediáticas de sempre em terras do uncle Sam. Será interessante saber se a aristocracia Bush/Clinton, no poder desde 1988, irá perdurar. Por outro lado, se McCain (como tudo indica) for o candidato do GOP irá assistir-se a um duelo idade-sexo ou idade-raça, consoante o seu adversário.
Burros e elefantes (na simbologia dos partidos, entenda-se) jogam por agora as suas cartadas estado a estado, casa a casa. Indiscutível é que a América precisa de um novo rumo. Obama diz "we can...". Eu acredito.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostava de começar por congratular o autor do post pois infelizmente este "marco na política internacional" que constituem estas primárias nos EUA não têm tido a devida atenção por parte dos meios de comunicação social portugueses que preferem desviar as suas atenções para temas mais "populares" como as enormes cheias que se verificaram em Portugal( imagino como classificariam os furacões que arrasam o continente americano nos meses de Agosto e Setembro ou a época das chuvas em zonas como Timor-Leste) ou o decisivo problema que constituem os projectos assinados por José Sócrates..que gozo dá assistir verdadeiros especialistas como Bill Schneider ou Wolf Blitzer!
Acho que com as devidas assimetrias, os EUA e Portugal vivem uma conjuntura semelhante, crises profundas em sistemas essenciais para a sociedade( sistema financeiro, sistema de educação, sistema de saúde,etc) bem como um enorme descrédito que paira sobre o sistema político e os profissionais do ramo..assim sendo talvez a reciclagem que se está a concretizar nos EUA fosse algo essencial cá na terrinha.
Quanto às eleições americanas, nutro alguma simpatia no lado republicano por Mike Huckabee pelos valores que defende ao nível da imigração,saúde e educação.Relativamente à vertente democrata a que mais atenção me desperta por motivos óbvios, Barack Obama é na minha opinião um revolucionário não só pelos ideais imtemporais que defende como pela sua forma de fazer política, a forma como conjuga JFK com Martin Luther King entre outros é verdadeiramente diferente, no entanto o seu espírito ínovador verificou-se também qd conseguiu ser eleito para o Senado pelo Estado do Illinois derrotando adversários mais poderosos em termos financeiros e já estabilizados no panorama político norte-americano.
Hillary Clinton apontada desde o início como a principal favorita à nomeação pelo Partido Democrata viu o seu estatuto a desvanecer-se semana após semana..como agiu?
Em vez de argumentos verdadeiramente convincentes apostou em Bill Clinton para captar votos em 2 sectores (população negra e reformados) e utilizou os media para de forma regular lançar boatos sobre a vida de Barack Obama, quando os argumentos não existem toca a recorrer à falta de nível e à deprimente campanha de boatos..ou seja, mais do mesmo.Embora(ao contrário do que refere o post) Hillary Clinton lidere no nº de super-delegados 234 vs. 161, acredito que Barack Obama conseguirá alcançar resultados em Ohio e no Texas que lhe permitam mesmo com uma apertada diferença garantir a nomeação por parte desses mesmos superdelegados na Convenção do PD isto tendo em conta o sentimento que os EUA parecem viver,esse sim um verdadeiro sentimento de...MUDANÇA!

Ass: On_the_House

Anónimo disse...

On the house
Obrigado pelo comentário e, já agora, pela correcção. Também sou da opinião de que nos EUA se vive um sentimento de mudança mas...será que há outra opção? Etal como tu tmb acredito que o Obama será o homem indicado para liderar uma nova América.
Abraço